Num tempo onde os manifestos eram calados pela força, e “opiniões desobedientes” iam à tortura, sobravam poucas brechas para se mostrar o descontentamento popular. Uma dessas poucas saídas era a cultura, que podia funcionar como uma válvula de escape para os absurdos que a sociedade vinha sofrendo.
Surge nos anos de 1968/9 o chamado movimento “tropicália”, ou simplesmente “tropicalismo”: uma reelaboração dos elementos da cultura e realidade social brasileira sob a perspectiva do rock`n`roll e da contracultura. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Torquato são figuras importantes que vão aparecer nesse cenário.
Na época, o movimento teve sim sua repercussão, mas foi também muito criticado, sendo seus representantes acusados de alienação para com a realidade repressiva do momento. Décadas mais tarde, somente após o esvaziamento do movimento tropicalista é que este passou a ser mais entendido e menos criticado.
Encontramos também ao final dos anos 60 o nascimento do iê-iê-iê, termo que possivelmente surgiu da expressão “yeah, yeah, yeah”, que apareciam em canções dos Beatles, como “She Loves You”.
O fenômeno da Jovem Guarda virou na segunda metade da década de 60 uma febre nacional, e foi um programa de manifestações artísticas que não tinha cunho político. Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia apresentavam o programa, que contava com a presença de outros inúmeros artistas.
A arte de protesto foi apresentada de diferentes formas: na música, no teatro, cinema, artes plásticas.
Na música vemos letras que burlavam a censura para poder chegar aos ouvidos do povo, como é o caso de “Cálice”, de Caetano Veloso.
No cinema temos Glauco Rocha, criador, roteirista e diretor de peças e filmes. O principal seria “Terra em Transe” de 1968.
No ano de 1970 temos em Belo Horizonte o evento artístico “Do corpo à Terra”, onde as “trouxas ensanguentadas” de Artur Berri, e a “queima das galinhas” de Cildo Meireles causaram grande polêmica, e denunciavam o regime político vigente.
O Brasil também passou pela experiência do Tricampeonato Mundial de Futebol durante o governo Médici, que se aproveitou do momento para resgatar de um modo intenso o nacionalismo e senso de patriotismo (mais propício a aparecer em épocas como copas do mundo). São significativas algumas frases criadas nesse período, tais como: “Ninguém segura esse país” ou “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Leslie Giménez - Acadêmica de história da UFPR
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